O tema hoje é
"sacrifício de animais para rituais religiosos". Vamos lá.
Primeiramente, é impossível
aceitar que, em pleno século XXI, os animais não tenham liberdade à vida
plenamente garantida por lei. Hoje a lei proíbe maus tratos, o que é um grande
avanço num perspectiva histórica. Mas a indústria alimentícia pode matar animais
para lucrar. Isso sem citar a farmacêutica, cosmética, da moda, etc... E você pode matar qualquer animal do
jeito que você quiser para exercer sua liberdade de culto, o que é uma garantia
constitucional.
Bom, se a coisa avançar, um
dia será proibido matar animais, seja para comer, seja para lucrar com suas
partes ou para fins religiosos. Mas estamos longe disso... Se fosse crime matar
animal em qualquer circunstância, não seria justificável a defesa da liberdade
de culto, pois a lei não permite que se matem pessoas para fins religiosos,
correto? A Constituição tem o
direito à vida como cláusula pétrea... mas apenas a vida dos seres humanos...
se os animais também tivessem esta garantia, a liberdade de culto jamais
justificaria o sacrifício animal.
Quanto à questão
religiosa... vamos às religiões de matrizes africanas, notoriamente o
Candomblé. O Candomblé é fruto da herança religiosa trazida pelos escravos de
diferentes tribos africanas. Sabe-se que a infinidade de tribos da costa
africana, onde se comercializava escravos, tinha cada uma seu sistema de culto.
Também é sabido que no Brasil escravocrata os negros oriundos da mesma tribo
eram apartados no momento da venda de modo a evitar a formação de grupos onde
se falasse o mesmo dialeto ou língua, facilitando assim a submissão do escravo. Com isso, pense na multiplicidade de
cultos e dialetos, que foram se perdendo ao longo do tempo, e somente com a
união dessa multiplicidade através do Candomblé foi possível perpetrar o culto
aos orixás, e mesmo assim houve algumas divisões de culto (as famosas nações,
como Ketu, Bantu, Nagô, Angola, Jeje, etc).
Pois bem, por ter uma origem
tribal, o Candomblé brasileiro enfrentou muitos desafios em uma terra onde o
modo de vida ocidental e urbano não condizia com muitos de seus ritos. Por essa
razão, a religião teve de adaptar-se ao longo dos séculos, como forma de
resistência. Passou por diversas adaptações para se moldar aos padrões de vida
urbano, no qual muitos ritos se tornaram inviáveis, como por exemplo o longo tempo
de permanência no roncó. Isto não
sou eu quem digo, mas sociólogos da religião, como Patrícia Birman e Renato
Ortiz em sua obra "A Morte Branca do Feiticeiro Negro" (que, aliás,
recomendo para qualquer pessoa).
Este é apenas um exemplo de
muitos ritos alterados. Não devo discutir aqui o que deva ou não ser mudado na
religião hoje em dia porque não sou Candoblecista, não tenho conhecimentos
sociológicos e nem doutrinários da religião. Mas tenho minha opinião pessoal e
leiga sobre os direitos dos animais, e aqui vem minha defesa:
1 - Em primeiro lugar, acho que se você é contra o sacrifício de animais em qualquer ritual religioso, você também deveria ser contra a matança de animais para satisfazer seu apetite. Não se esqueça que o bife que você come não brota na geladeira do açougue. O seu bife é um animal abatido friamente. A diferença é que no ritual Candoblecista ainda se tem mais respeito pelo animal, pela sua importância sagrada. Porém, o método rudimentar faz com que o sofrimento do animal seja equivalente ao de quando é morto em abatedouros.
2 - Por essa razão, acredito que para ser contra o sacrifício, você tenha que rever seus hábitos. Muda a finalidade, mas você está sendo tão assassino quanto aquele que mata a galinha ou o bode para um orixá. A diferença é que você paga para não sujar suas mãos no sangue para saborear seu filé.
3 - Acredito que o Candomblé precisa rever estas práticas, porém com a mesma necessidade com que toda e qualquer pessoa deva rever seus hábitos alimentares. Não vivemos em tribos, não matamos mais o que vamos comer, e não DEVEMOS mais comer animais e nem explorá-los. Para mim, comer animais é tão primitivo quanto oferecê-los em um ritual. No dia em que matar animal PARA QUALQUER FINALIDADE se tornar lei, não haverá mais desculpa. O Candomblé terá de se adaptar à lei do Estado supostamente laico, como se adaptou inúmeras vezes antes aos padrões de vida da sociedade urbana.
4 - Esta movimentação já existe. Muitos ilês estão aderindo à abolição de sacrifícios animais, assim como utilização de materiais biodegradáveis em ebós (oferendas) para não poluir o santuário maior das religiões de matriz africana: a própria Natureza, morada dos orixás sagrados.
E, para finalizar, deixo aqui a opinião de uma filha de santo a respeito:
"Eu, enquanto vegetariana e do santo, me recuso terminantemente a oferecer a morte a meu Orixá. Infelizmente, a história é deturpada e o conceito de matança aceita no candomblé é irreal. Você não pode oferecer a morte a um ser que não precisa se alimentar de restos, nem tampouco da ausência de vida. Pai Oxalá é grande e é pai de todos, inclusive dos animais, e é por isso que eu digo: quem somos nós para tirar uma vida, seja lá pelo motivo que for? Quem nos deu o direito de ceifar uma existência, de findar um espirito de luz? A realidade da religião de origem africana era o compartilhamento, portanto, a comunidade consumia o animal, em regiões cruelmente massacradas da África, e dividia com seu Orixá aquilo que comia. Porém, nós não precisamos nos alimentar de sofrimento e a tortura não é o ato de machucar um animal, mas privá-lo da vida, uma vida que não pertence a você. Nenhum animal se oferece livremente para morrer em seu nome, e forçá-lo a isso é sim uma covardia. Espero, verdadeiramente, que o povo de santo evolua sua mente para a real presença de cada Orixá, que não precisa ter sangue sobre si, pois é a essência da pureza e da luz. Aguardo, ansiosamente pelo dia em que nós, irmãos de santo, possamos honrar o nome daquilo que somos e buscar a união espiritual e a evolução, juntos. Axé!"
1 - Em primeiro lugar, acho que se você é contra o sacrifício de animais em qualquer ritual religioso, você também deveria ser contra a matança de animais para satisfazer seu apetite. Não se esqueça que o bife que você come não brota na geladeira do açougue. O seu bife é um animal abatido friamente. A diferença é que no ritual Candoblecista ainda se tem mais respeito pelo animal, pela sua importância sagrada. Porém, o método rudimentar faz com que o sofrimento do animal seja equivalente ao de quando é morto em abatedouros.
2 - Por essa razão, acredito que para ser contra o sacrifício, você tenha que rever seus hábitos. Muda a finalidade, mas você está sendo tão assassino quanto aquele que mata a galinha ou o bode para um orixá. A diferença é que você paga para não sujar suas mãos no sangue para saborear seu filé.
3 - Acredito que o Candomblé precisa rever estas práticas, porém com a mesma necessidade com que toda e qualquer pessoa deva rever seus hábitos alimentares. Não vivemos em tribos, não matamos mais o que vamos comer, e não DEVEMOS mais comer animais e nem explorá-los. Para mim, comer animais é tão primitivo quanto oferecê-los em um ritual. No dia em que matar animal PARA QUALQUER FINALIDADE se tornar lei, não haverá mais desculpa. O Candomblé terá de se adaptar à lei do Estado supostamente laico, como se adaptou inúmeras vezes antes aos padrões de vida da sociedade urbana.
4 - Esta movimentação já existe. Muitos ilês estão aderindo à abolição de sacrifícios animais, assim como utilização de materiais biodegradáveis em ebós (oferendas) para não poluir o santuário maior das religiões de matriz africana: a própria Natureza, morada dos orixás sagrados.
E, para finalizar, deixo aqui a opinião de uma filha de santo a respeito:
"Eu, enquanto vegetariana e do santo, me recuso terminantemente a oferecer a morte a meu Orixá. Infelizmente, a história é deturpada e o conceito de matança aceita no candomblé é irreal. Você não pode oferecer a morte a um ser que não precisa se alimentar de restos, nem tampouco da ausência de vida. Pai Oxalá é grande e é pai de todos, inclusive dos animais, e é por isso que eu digo: quem somos nós para tirar uma vida, seja lá pelo motivo que for? Quem nos deu o direito de ceifar uma existência, de findar um espirito de luz? A realidade da religião de origem africana era o compartilhamento, portanto, a comunidade consumia o animal, em regiões cruelmente massacradas da África, e dividia com seu Orixá aquilo que comia. Porém, nós não precisamos nos alimentar de sofrimento e a tortura não é o ato de machucar um animal, mas privá-lo da vida, uma vida que não pertence a você. Nenhum animal se oferece livremente para morrer em seu nome, e forçá-lo a isso é sim uma covardia. Espero, verdadeiramente, que o povo de santo evolua sua mente para a real presença de cada Orixá, que não precisa ter sangue sobre si, pois é a essência da pureza e da luz. Aguardo, ansiosamente pelo dia em que nós, irmãos de santo, possamos honrar o nome daquilo que somos e buscar a união espiritual e a evolução, juntos. Axé!"
Em tempos de Facebook, as pessoas esquecem os bloguinhos, e eles ficam tristes.... :-(
ResponderExcluirAss: Nataly, rs
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