Quando se trata da Globo, eu confesso que tenho uma tendência conspiracionista. Não é primeira vez que assisto a uma reportagem do Fantástico com uma sensação incômoda de manipulação e etc. A primeira vez foi quando mostraram um ritual de passagem de uma tribo não sei de onde, na qual os jovens índios tinham que enfiar a mão em uma luva de formigas para se tornarem homens de fato perante a tribo.
O Fantástico retratou o ritual de maneira extremamente tendenciosa, caracterizando-o como desumano e primitivo, deixando a entender que os jovens índios são uns coitados nas mãos da tribo. Prá fechar com chave de ouro, mostraram um indiozinho, uma criança que dizia que não faria o ritual quando crescesse. O mais interessante é que mostraram esta criança como a única criatura sensata da tribo, e talvez a única esperança à irracionalidade primitiva de seus semelhantes. Cara, numa boa. Levi-Strauss deve ter se revirado legal no túmulo com essa.
A segunda vez foi neste domingo, com a reportagem sobre a iniciativa do Ministério da Saúde de disponibilizar camisinhas nas escolas. A reação negativa dos próprios jovens me deixou chocada. Fico pensando se não foi mesmo uma reportagem tendenciosa, até porque somente um ou dois jovens se mostraram a favor, e primeiro mostraram uma grande maioria contra. Fora que fizeram uma enquete ao vivo, na qual somente 54% dos telespectadores se manifestaram a favor.
Manipulada ou não, uma coisa é fato. Nossa juventude está cada vez mais conservadora. Tudo bem que o próprio Fantástico já noticiou isto neste ano. Mas para além de pesquisas e dados estatísticos (manipulados ou não), isto é um fato observável. Se a geração de nossos pais se preocupava com o futuro político de nosso país e de nossas garantias individuais, e sonhavam romper com a ordem para a conquista de seus direitos e realizações de seus sonhos, hoje a nossa juventude não quer romper a ordem, mas se inserir nela.
Nossos jovens não queimam sutiãs e não pintam os rostos para protestar nas ruas, mas planejam suas carreiras e inserção no mercado de trabalho, a compra de seus bens tecnológicos, planejam casar, constituir família, ter um bom emprego estável e morrer de velhice, preferivelmente dormindo.
Não que nossa juventude tenha virado uma massa amorfa e apática. Mas aparentemente, se algo suscitava um caráter transformador e "libertário", este algo não existe mais. Ele deu vazão não só a um conformismo e uma abulia política (o que, segundo alguns analistas políticos, é uma reação natural perante a conquista da democracia estável), mas um retorno a valores conservadores, e isto que é assustador.
É certo que não houve revolução burguesa na América Latina, e que somos impregnados por posturas tradicionalistas. É certo que o capitalismo não se desenvolveu plenamente aqui, e "Saturno nos trópicos" é mais do que uma fadiga depressiva. Os valores liberais não colaram. So sorry, babe...
Daí se explica porque é um aborto legalizar o aborto aqui. E porque a união homossexual nunca é legalizada, e os direitos dos cidadãos GLBT não são respeitados. Daí se explica muita coisa.
Enquanto Estado laico (apesar dos crucifixos nas paredes dos tribunais), o Governo Federal brasileiro cumpre com seu papel e coloca a saúde pública acima de quaisquer convicções pessoais e religiosas. A atitude do governo foi pautada em dados estatístico sobre gravidez na adolescência e a AIDS.
Eu me lembrei das caras e bocas que surgiram quando o Ministério da Saúde resolveu distribuir camisinha nas ruas em época de carnaval. E tinha aquelas propagandas divertidas, com aquela marchinha dizendo que até Cleópatra encapuzava o boneco.
Na época disseram que era o pandemônio, que ali o sexo chegara à sua banalização extrema. Porém, a questão não é banalizar. O que mexe com as veias tradicionalistas é o fato de que o governo tirou o sexo da caixa preta do tabu religioso e social e o elevou ao nível do cotidiano de nossos adolescentes, o colocou no lugar que o pertence de fato, e de onde jamais deverá sair de novo.
Escola é lugar de distribuir camisinha sim. Finalmente o governo tomou uma atitude condizente com a realidade sexual de nossos jovens, cujo comportamento irá mudar sim com tal atitude. Não fazendo mais sexo, mas fazendo sexo com mais proteção.
Oie Aline!!
ResponderExcluirSabe o que acontece com os jovens? é simples, tudo que se foi conquistado veio de bandeja para eles... eles não tiveram que se esforçar por nada... O que vem facil... não se da valor... o valor se agrega pela dificuldade de forma lo...
Mas estou parecendo um velho falando, credo!!!
Beijos Aline..
Ah! Mulher.. se tem alguem aqui q escreve bem.. esse alguem é vc... ooo mulher ercrevinhadora!!!
A Globo tem atuado quase como um partido político, defendendo teses, candidatos e projetos que lhe interessam no Congresso. E faz tudo isso usando um bem público, que é o espectro radioelétrico. Mas, assim como qualquer emissora de rádio ou televisão, a Globo é uma concessionária de um bem público.Portanto deveria cumprir o seu papel de informação imparcial. Interessante como a moda segue as ditaduras globais..Sim as camisas de vênus nas escolas..adolescentes não são idiotas.
ResponderExcluirDimas Ribeiro de Camargo Papito
Aline,
ResponderExcluirA mesma Mídia, mais especificamente a Globo, banaliza a questão do sexo em suas novelas. Se não fosse a censura definida pelo Ministério da Justiça há uns anos atrás a coisa era mais picante. A mesma que estimula é a que condena com suas reportagens tendenciosas: o uso de camisinha nas escolas, o "primitivismo", põem no mesmo saco os políticos, fala mal da infraestrutura do país e por vai. Merece só um artigo. Mas discordo de vc só num ponto. Tivemos revolução liberal, mais especificamente a econômica e a política. Basta observar nosso modo de produção como está avançado e inserido no mundo. Nossa "democracia" que é a burguesa, pois estritamente os nosso representantes estão "amarrados" às questões econômicas dos banqueiros e empreiteiras, basicamente. Veja o quanto pagamos só de juros a eles. É coisa que até Marciano dúvida.
é isso aí, mais uma vez um belo post!