12 de agosto de 2010

TDA - Transtorno de Déficit de Atenção


Cara, eu nem sei como vou fazer prá escrever sucintamente sobre isso. Mas prometo ser o mais breve e menos mala possível.

Aos 18 anos, eu descobri que tenho TDA - transtorno de déficit de atenção (conhecido também por DDA - distúrbio de déficit de atenção). Na verdade, este é um termo genérico, pois comporta alguns subtipos de distúrbios, alguns associados à hiperatividade, depressão, etc.

O subtipo mais conhecido é o TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade). É mais fácil de diagnosticar porque é bem perceptível logo na infância. São aquelas crianças hiperativas e com dificuldade de concentração.

O meu subtipo é o TDA sem hiperatividade. Geralmente acomete meninas (o contrário do TDAH, cuja maioria dos portadores é do sexo masculino). Vou tentar resumir aqui os sintomas:


Infância

- na escola, são crianças quietas, tímidas e com dificuldades de socialização;
- apresentam inteligência aguçada, porém têm problemas de rendimento por dificuldade de concentração;
- não concentram-se com facilidade nas aulas, às vezes não ouve o que o professor diz, perde-se em seus pensamentos;
- têm dificuldades com algumas matérias específicas, principalmente as de exatas;
- podem não querer ir à escola por se acharem incapazes;
- baixa auto-estima, sentem-se inferior aos colegas;
- têm dificuldade de organizar trabalhos escolares;
- frequentemente perdem materiais escolares, livros, etc;
- esquecem de fazer deveres.

Idade adulta

- alterações de humor, alta irritabilidade
- sentimentos intensos
- esquecimento de compromissos
- constante perda de objetos
- procrastinação
- dificuldade em ser pontual
- perdem-se em lugares conhecidos
- começam vários projetos ao mesmo tempo, não terminam nenhum
- dificuldade em concentrar-se em atividades que os desagradam, ou que os pressionam
- superconcentração em atividades que os agradam
- compulsividade, que pode traduzir-se em compulsão alimentar, vícios, etc.
- depressão
- dificuldades em manter-se em um mesmo emprego
- dificuldades em manter relacionamento estável
- insegurança, que traduz-se em ciúme excessivo
- muitas ideias ao mesmo tempo, que tornam-se obssessões


Para muitas pessoas, é difícil acreditar que eu tenha tudo isso. Até porque hoje em dia, muitos me conhecem por características opostas às descritas acima. Mas o que ocorre é que eu consegui domar muitas delas.

TDA tem tratamento e, para além de remédios, o trabalho do psicólogo está mais relacionado a oferecer ao paciente métodos simples para lidar consigo mesmo. Um exemplo banal é a adoção de agendas para organizar suas atividades, entre outros.

Como eu descobri meu TDA?

Aos 18 anos, eu trabalhava numa livraria. Todo mundo acha que deva ser um trabalho super legal, que os funcionários passam o dia lendo, etc. Mas não é nem um pouco. Porque eu trabalhava como uma camela, e só podia ler a quarta capa dos livros, para ter uma noção do que se tratavam.

Ou seja, nesta época, conheci muitos títulos, mas não aprofundei nenhuma leitura. Estou contando isso porque num belo de um dia chegou um livro que estava estourando em vendas nas grandes livrarias, o "Mentes Inquietas" (de Ana Beatriz Silva). Eu ainda não conhecia o livro, o gerente da loja que o pegou para folhear, e logo me chamou, surpreso, pedindo para lê-lo porque o livro simplesmente me descrevia por completo.


O culpado da minha grande descoberta, rs.

Eu li o livro sim, mas fiquei muito assustada, e de imediato neguei que eu pudesse ter o distúrbio. Mas os testes do livro davam positivo sempre, então resolvi tirar essa história a limpo. Nós tínhamos uma cliente psicóloga (um amor de pessoa), cujo consultório era praticamente ao lado da livraria. Eu comentei sobre o acontecido com ela, e ela se propôs a conversar comigo.  

Bem, fui lá... respondi várias perguntas, falei da minha vida e da minha infância. Ela disse que não precisaria de muito mais para ter certeza da minha TDA.

A trajetória do meu TDA

Na infância, eu tinha dificuldade em me concentrar nas aulas. Me achava incapaz prá tudo, inferior a todos. Eu cheguei a mentir para os meus avós uma vez que minha professora mandou fazer uma atividade que não ouvi ela explicar, e não entendi necas. Era prá levar no dia seguinte, então disse que eu não teria aula. Minha vó descobriu, hehe. Nunca mais menti por medo da reação deles, mas o pavor de encarar estas situações continuou por alguns anos.

Não me socializava, ficava sempre de canto, tinha sempre uma ou duas amigas, no máximo. Perdia meus materiais, livros, cadernos... com muita frequência, e isso me prejudicava. Minha avó dizia sempre que eu vivia no "mundo da lua", e isso começou a encher tanto a paciência dela que ela resolveu comprar prá mim um remédio para memória, chamado "cerebrex". O problema é que eu esquecia de tomar o bicho, e vi algumas caixas do remédio passarem da validade, hehehe.

A adolescência foi um martírio. Já é um período complicado para qualquer ser humano. Para um TDA então... Tive depressão, muitas crises existenciais, auto-estima zero... Comecei a namorar aos 16 anos. Coitado do cara, foi um relacionamento completamente doentio. A insegurança e o ciúme doentio me dominava. Eu cheguei a procurar o MADA para tentar resolver o meu problema. Pensei também em fazer terapia, mas meu ex achou um absurdo... 

Algumas compulsões e vícios se originaram nesta fase. A compulsão alimentar (com quem brigo até hoje) e compulsão por comprar (hoje é item riscado de minha lista, felizmente). Quando comecei a trabalhar, também foi outro problema: não conseguia chegar no horário, postergava tudo o que não gostava de fazer, e minha chefe era tão insana, que eu não conseguia escutar o que ela falava. Só via a boca se mexendo, o pavor era tão grande, que nem as ordens dela eu entendia, me dispersava muito.

Foi justamente neste período que "descobri" a TDA. E foi o que me tirou do limbo e me deu impulso prá começar a mirar o céu, e não mais o chão.

Como eu aprendi a "domar" meu TDA?

O primeiro passo foi a aceitação, o que foi bem trabalhoso. Aceitar-me torta como sou e gostar de mim mesma foi fundamental para seguir adiante. O que ajuda muito é pensar que a TDA tem tratamento (apesar de não ter "cura", já que não é uma doença propriamente dita).

Além disso, descobri que a TDA tem também seu lado bom. Nós temos atributos que acabam nos beneficiando. Quando gostamos de uma atividade, nos superconcentramos e a desenvolvemos com um afinco incomparável. Fora que são pessoas com muita criatividade e talentos dos mais variados. E são sempre destacadas por estes talentos.

Isso me ajudou a identificar minhas qualidades. E, consequentemente, me deu mais segurança e auto-estima. Agora sei que esse meu jeitão torto tem suas qualidades, as quais eu posso oferecer a qualquer área da minha vida: em casa, no trabalho, nos estudos...

Posteriormente, alguns fatores exógenos me ajudaram a transformar defeitos em qualidades. Foram situações que me pressionaram a mudar minhas atitudes, pois de outro modo eu teria custos altos para arcar. A exemplo, fui morar sozinha, e como precisava garantir meu aluguel, tive que encarar o emprego casca grossa que eu tinha, pois pagava muito bem e me garantia nas despesas.

O problema é que minha chefe lá era uma verdadeira Miranda Priestly ("O diabo veste Prada"). Se você assistiu o filme, sabe do que estou falando. Além disso, o escritório era na Berrini (o c* do mundo). Mas eu não podia desistir. Me enchi de coragem e matei esse leão. Não podia nem sonhar em chegar atrasada. Qualquer falha minha resultaria em demissão, na certa.

Maryl Streep como Miranda Priestly, em O Diabo veste Prada

Resultado: aprendi a ser pontual, a me concentrar mais e me organizar. De maneira tão intensa, que peguei várias manias de secretária. Felizmente! Hoje, não vivo sem agenda, e tenho prazer de organizar a minha rotina.

Quanto aos outros problemas, a resolução para quase todos eles se chama Ewerton, ou Gamarra. Com ele eu me dei conta que o que eu mais preciso é de um companheiro diferente de mim. E ele é meu oposto ao extremo. Uma pessoa absolutamente calma e centrada. Com ajuda dele eu domei os meus monstrinhos, pois eu não queria perdê-lo como eu perdi meu ex.

Este blog nada mais é do que uma expressão do meu TDA. Minha cabeça é inundada de ideias e projetos o tempo todo, que me dominam de um jeito que mal me deixam dormir. Eu preciso expelí-las um pouco prá me sentir mais aliviada...

Nossa, tem muita coisa que eu poderia ainda escrever. Mas eu prometi não ser mala, e acabei sendo mega master mala, então fico por aqui. Agora pelo menos dá prá sacar a piadinha da primeira imagem deste post, hehehe...

Se você quer mais informações (e mais confiáveis do que as minhas) acesse:













9 comentários:

  1. Lembro do meu primeiro dia em meu primeiro emprego, meu chefe se apresentou e eu não "ouvi" seu nome, estava preocupada em não me mostrar insegura, mas tão preocupada que nada mais existia naquele universo que não fosse minha preocupação. A funcionária me ensinava pacientemente a função, na hora eu até fiz, mas depois... esqueci tudo. Vc sabe que também sou DDA, né? E sabe o quanto é difícil quando não temos ao nosso lado alguém que nos equilibre e... hey, olha uma borboleta ali!!!! Rs... Beijos, minha esquecidinha favorita!

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  2. Partindo do princípio da falta de atenção em atividades que os desagradam, e a super concentração em atividades que os agradam... já dizia o velho "Gizmo o Sábio":

    "Podemos conhecer muito de uma pessoa simplesmente pelo fato de observar como ela tem o cuidado de alinhar seu texto de um Web Blog."

    Como eu disse... "Padrão Gizmo de Qualidade"

    Beijão

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  3. Eu sou essa ai!
    Socorrooo!
    Cuspida e escarrada!
    Preciso aprender a me organizar, a não me atrasar, a me encontrar...
    Ahhhhhhhhhhhhhh!

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  4. Ah, e por coincidência, também descobri isso lendo esse livro na biblioteca onde eu trabalhava, que coisa, não?
    Hehehe.
    Beijos.

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  5. Oi, Luuuuuu!

    Hahaha, mas que coincidência, viu...

    É, aos poucos vamos aprendendo a domar nossos monstrinho TDA, que não são poucos!

    Bjooooo!

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  6. Me ajudou muito seu texto, acabei de descobrir que tenho TDA, não sou transtornada, tenho minha religião, sou consagrada de uma comunidade que me ajuda muito, mas vou ter que me tratar diante de algumas questões como meus estudos, eu tenho uma deficiência que me fez me auto-motivar tb a longo dos anos. Estou vendo o lado bom das coisas, poderia ser pior. Obrigada pelo seu texto. Precisava ler hoje algo assim. Me focou que posso mudar ainda mais. DEUS ABENÇOE! LILY

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  7. aah mala nada..fiquei triste qd acabou o texto.. tbm tenho TDA..tenho esse livro..o mais novo..é bom msm a gente ter alguem oposto da gente..tbm tenho um Gam na minha vida..na vdd achei seu blog por causa do seu noivado..mas então..vc nunca se enteressou em fazer tipo " um diario de TDA" já pensei em fazer mas não sei por onde começo e outras questões..pra troca d experiencias e casos engraçados..que nós sempre proporcionamos rsrs..o que acha?

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  8. Seu texto ajudou muito, pra eu me acalmar momentaneamente. Tenho 24 anos e descobri no começo desse ano que tenho DDA, mas apesar de estar tomando ritalinaLA 40mg, sinto falta de um bom profissional para o tratamento cognitivo. O pior não são as pessoas que perdem a fé em mim, mas sim quando eu perco a fé em mim. Quando começo a me perguntar se realmente não tenho nd e estou procurando desculpa para ser do jeito que sou. Minha familia cobra demais as notas da faculdade, pois como eu estou tomando remedio eles querem ver o resultado. Mas eles nao veem como esta o tormento dentro de mim. Eu consegui uma arma que não sei como usar. Eu tenho mais energia pra fazer as coisas mas sinto que esta td descontrolado. Antes eu nao reparava em coisas pequenas do cotidiano como uma teia de aranha que "no dia seguinte" cabia um spider man. Ou quantas roupas eu perdi quando fui morar sozinha pelo fato de achar q tinha deixado de molho ontem e quando ia ver ja tinha passado uma semana. Até hj escuto coisas como: -vc perdeu suas coisas pq vc é relaxada, entao paciencia. Ou: -Td mundo tem dificuldade na faculdade, vc precisa se esforçar mais. Mas o descontrole toma conta de mim. Tem epoca que eu me deprimo, mas não por vontade de me matar ou achar q nao tem soluçao. Mas fico deitada o dia td se puder, pensando em como melhorar a situaçao financeir e dos estudos. Viajo longe com uma sensaçao de ansiedade pra resolver essas coisas e o primeiro passo eu não dou. Fico parada sonhando. Dae de repente eu animo, decido planejar td outra vez. E quando vem decisoes mais dificeis pra tomar eu volto pro sonho do resultado e deixo o primeiro passo pra la. Minha mae fala que eu sou um bebezinho, que preciso de alguem me puxando pela mãozinha pra eu ir pra frente e meu pai dizia que eu tinha que me connformar pq fillho de burro nasce burro e morre burro. Meu humor occila junto as minhas frustraçoes e minha auto estima vai de zero pra baixo. O pessoal trata a ritalina como a soluçao do problema, mas e as marcas que o transtorno deixa? Como saber usar esssa "arma"? Que na minha opiniao é só um estimulo e faz parte de uma pequena porcentagem no tratamento em adultos.

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Comentários são sempre bem-vindos. Desde que não venham a ferir a ordem nacional. Hehehe...

E viva a democracia!

VIVAAAA!